Lectio Divina (Eclo 28,13-26): A língua pode salvar ou ferir


Hoje a lectio retoma o assunto da língua e do seu poder.

Ela começa dizendo para amaldiçoar o difamador e o homem falso, que em suas armadilhas pegam os que vivem em paz. O que deve significar isso? Jesus nos diz que amemos até mesmo nossos inimigos (c.f. Mateus 5, 38-44), que nós os abençoamos, em vez de amaldiçoar. É bem provável que o autor sagrado tenha escrito isso por conta da dureza de coração das pessoas naquela época. O mesmo aconteceu com Moisés, como explica Jesus em Marcos 10, 2-12.

A língua intrometida é aquela que entra onde não é chamada, falando o que não é de sua responsabilidade. Isso causa desordem, desentendimentos e até mesmo divisões. Por isso precisamos ficar atentos, tanto para não ser quem difama, quanto para com o difamador. Precisamos pedir ao Espírito Santo uma língua adestrada, para dizer o essencial e silenciar nos momentos necessários.

A língua intrometida de uma mulher faz com que muitos a vejam como uma má pessoa, pois ela fala aquilo que não deveria num momento inapropriado. Não digo que isso acontece só com as mulheres, mas já conheci homens com uma língua solta e posso dizer a vocês que não era nada bonito.

Ninguém consegue dar atenção a uma pessoa de língua intrometida e quando dá, não tem sossego até o momento que não esteja mais na presença dessa pessoa. Precisamos também nos vigiar para saber se não somos uma pessoa que age dessa maneira, de forma desagradável.

O autor sagrado usa uma comparação um tanto quanto grotesca: o chicote deixa marca, mas a língua quebra os ossos. Acredito que esta comparação não seja para o corpo físico, mas sim para o nosso coração, para a nossa alma. Uma palavra negativa, de insulto, pode arruinar uma alma, quebrar seus ossos. Precisamos ter precaução quanto a essas palavras, mas também não podemos nos deixar levar por negatividades que venham dos outros.

Outra alegoria que o autor sagrado usa é a que muitos caíram pela espada, mas não se compara aos que caíram por conta da língua. De fato, a língua já causou guerras que dizimaram muitos. Veja Hitler, que usou da língua a seu favor e mandou matar tantos… A língua é poderosa e precisamos aprender a usar ela para o bem.

Quem não se tornou escravo da língua, nem se deixou levar por ela, é feliz. É feliz porque não fez o mal, nem recebeu o mal de ninguém. É feliz porque tem domínio de si e sabe dizer a palavra acertada no momento oportuno. Mesmo a palavra certa, se dita no momento errado, pode causar um estrago. Por isso é preciso dizer o que é certo e no momento exato. São as duas pernas para que a língua caminhe sem cair.

Quem já recebeu ou falou uma palavra negativa, sabe o quanto o jugo dela é pesado. Não queiramos carregar um peso acima do que o Senhor nos pede para carregar. Saibamos silenciar, saibamos falar.

A morte que a língua causa é a morte da alma. Nosso espírito fica desfalecido, sem forças até mesmo para orar e buscar a Deus. Ficamos como Lázaro, a esperar ressurreição.

O autor sagrado nos comunica nos versículos 22 e 23 sobre o resultado do que acontece quando permanecemos fiéis a Deus ou quando somos infiéis. Quem é fiel não se deixa levar pela língua, permanece na palavra de Deus e na oração de maneira fortificada. Mas quem abandona o Senhor, torna-se escravo das próprias palavras, do mal da língua. É nessa hora que é preciso que reconheçamos nossa miséria e busquemos o perdão de Deus.

O autor sagrado encerra a palavra de hoje dizendo que tenhamos cuidado com nossas propriedades, cercando-as de proteção. Acredito que isso tenha a ver com a propriedade do nosso coração, pois logo depois ele diz que devemos pesar na balança o que dizemos, fechando a boca com porta de ferrolho se for para falar coisas para o mal.

Além disso, nos adverte a termos cuidado para não tropeçar com a língua, para não cair diante de quem nos espreita. Muitos querem o nosso mal e infelizmente encontramos isso até na igreja. Pessoas que querem estar por cima, pisando nos outros. São João Paulo II já pediu perdão por essas pessoas, pelos filhos da igreja que erram. Mas nós precisamos ter cuidado para não cair.

Peçamos a Deus a graça de ser fiéis a Ele, vivendo o amor e a misericórdia, buscando-o dia após dia para que nossa língua seja adestrada pelo Espírito Santo. Louvado seja o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado.

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