Lectio Diária: Mc 3,1-6


       O ser humano é um ser que tem suas necessidades, algumas supridas, outras não. Jesus nos diz em Mateus 26, 11, que sempre haveríamos de ter pobres no meio de nós. Acredito que esse "pobre" significa "um ser necessitado". Assim, Jesus na terra ao passar pelos lugares sempre encontrou pessoas feridas, seja no corpo, seja na alma. Nós também podemos hoje encontrar pessoas assim, ou mesmo ser uma delas.
       Mas será que temos procurado ajudar essas pessoas? Ou temos nos limitado a legalismos que nos aprisionam em um estado inerte, de comodidade? Alguns observavam Jesus ali na sinagoga não por quem Ele era, mas pelo que Ele podia fazer por aquele homem de mão seca. Eles sabiam que Jesus podia curá-lo, mas eles não concordavam com isso. No seu egoísmo, apenas procuravam motivos para acusar Jesus de não seguir as leis judaicas.
       "Levanta-te e fica aqui no meio". Muitas vezes precisamos observar o outro lado da moeda. Não é só nós que não ajudamos as pessoas necessitadas, mas os necessitados não se apresentam a todos como tal. Vemos hoje um misto de pessoas acomodadas numa vida de esmola, ou pior: no vício de drogas; mesmo elas tendo a capacidade de trabalhar e ter uma vida digna. Em contra partida, temos pessoas que realmente precisam de uma ajuda humana, solidária, para seu sustento, seja permanente, seja temporário.
       Jesus então abre o questionamento que se torna o xeque-mate da situação. O bem é permitido fazer sempre, não importa o dia da semana. Caso existisse um legalismo desses hoje, será que nenhum hospital poderia funcionar em dia de sábado ou domingo? E os doentes, como ficariam? Em outra passagem Jesus questiona também essa questão do sábado, dizendo que se um animal fica preso em dia de sábado, será que não o ajudariam a sair para pastar e beber água? Deixariam ele à míngua para morrer de sede? E se declara como o Senhor do sábado (c.f. Lucas 6, 5.13, 14s). Eles, com tal questionamento de Jesus, não conseguiram nada falar. Quem está no erro, não tem o que falar diante da verdade. Tudo o que é gerado em seu coração diante disso é raiva, por isso inventam mil argumentações falaciosas para se justificar.
       Jesus era Deus, mas também humano. Sentiu raiva por ver pessoas tão duras de coração, que não arredam o pé e se dobram para ajudar um necessitado. Ao mesmo tempo Ele sentiu tristeza, pois tudo o que Jesus quer é o que Deus quer: que sejamos santos, que vivamos a caridade, que ajudemos uns aos outros não porque somos negros, ou brancos, ou pobre ou ricos, etc. Não por isso, mas porque somos seres humanos, somos da mesma espécie, temos o mesmo DNA. Então Jesus cura a mão do homem.
       Muitas vezes para quem está na mentira não basta escutar a verdade e se converter. É preciso matar aquilo que incomoda. Por isso os fariseus e partidários de Herodes, estes que julgavam negativamente Jesus por curar em dia de sábado, buscavam uma forma de matar o Filho do Homem. Custa escutar a verdade, cair em si e se converter? Custa sim, custa o orgulho que precisa ser pisado por nós. Precisamos colocar a mão na nossa consciência e descobrir em que estamos apontando o dedo, em vez de estender a mão e ajudar de alguma forma. Há quem não queira ser ajudado, que queira permanecer no erro e na mentira, mas não falo destes. Falo daqueles que verdadeiramente querem uma vida melhor, digna, e que são barrados por homens e mulheres insensíveis aos outros.

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